“No batuque, o dançarino percorre a roda em passos cadenciados, pousando
os pés com cautela um adiante do outro, os cotovelos para trás, a
cabeça baixa, o tórax reentrante, os joelhos um pouco curvos – com o ar
de quem prepara o golpe fatal, calculado e definitivo. Por duas vezes
ameaça o parceiro, prevenindo-o, assim, de que é a pessoa escolhida. À
terceira, prostra-o, por meio de um dos inúmeros golpes que conhece,
cada um de resultado especial.“ (MEIRELES, 2003:60)
“No brinquedo também está de certo modo compreendido o samba – que é,
naturalmente, sobrevivência de ritual de casamento, dado o ar
contidamente erótico que conserva. Como o batuque, é uma dança ímpar,
executada no meio de uma roda, que igualmente canta, bate palmas e toca
tambores, pandeiros, cuícas, caixinhas e chocalhos.(...) No samba, o
dançarino fica no meio da roda, acompanhando a música com uma ondulação
característica de todo o corpo e, em especial, das ancas e do ventre,
com expressões muito harmoniosas de braços, em gestos ora um tanto
exaltados, ora de uma grande suavidade. Por fim, aproxima-se de um dos
parceiros, diante do qual desenvolve com mais expressão todos os seus
jogos rítmicos, num dos quais, o parafuso, o corpo, como acompanhando
uma hélice interior, vai-se reduzindo, pouco a pouco, em altura, até
deixar o dançarino quase sentado no chão; em seguida, desenrola-se até a
altura comum, sem nunca perder nem interromper o ritmo da música.”
(MEIRELES, 2003:58-62)
MEIRELES, Cecília. Batuque, samba e macumba: estudos de gesto e de ritmo, 1926-1934, São Paulo: Martins Fontes, 2003.
MEIRELES, Cecília. Batuque, samba e macumba: estudos de gesto e de ritmo, 1926-1934, São Paulo: Martins Fontes, 2003.